5 de abril de 2011

Par *

Cansado. Acabado. Fraco. Exausto. Tinha tudo isso em mim. Um pouquinho de cada um e juntos me fizeram o homem mais sem coragem do mundo. Você desembrulhava algumas coisas e eu me cansava de subir e descer escadas carregando coisas muito pesadas. Haviam caixas por toda parte. A casa estava uma bagunça. Muito trabalho esperava por nós ainda. Mudar de casa não é como trocar de roupa, e eu senti isso pesadamente naquele dia. À tardinha, já com a bateria pedindo carga, a gente deu uma pausa. Primeiro tomei banho e enquanto você tomava o seu, eu deitei no sofá da sala, que ainda não estava em seu lugar definitivo. Olhei o sol bater na janela e escorrer, até anoitecer. Comemos alguma coisa e cambaleamos para a cama. Você encostou a cabeça em meu peito e me abraçou, até que, sem demora nenhuma, adormecemos. Que mais eu poderia querer? Você estava em meus braços e em meus pensamentos e sonhos. Eu tinha você. Eu tenho. O sol friozinho, típico daquela hora da manhã. E, sem esperar que você ouvisse, te entreguei:

- Eu te amo, bebê. Muito mesmo.
E você, um pouco dormindo, um pouco acordada, me recitou:
- Eu também te amo. Muito, muito, muito...
E foi diminuindo o volume da voz até voltar a dormir por completo.

Eu fiquei ali, bobo, leve, como um animal abandonado recebendo um novo lar. Era a dose que faltava pra me devolver as forças e o ânimo. Então lembrei do que você tinha me falado outro dia: "Nenhuma outra pessoa teria o direito de ficar com um de nós." E eu emendei: "E ninguém vai saber cuidar de mim, a não ser você" Seus cabelos escuros em meus dedos e você no meu corpo. Adormeci de novo, só pra acordar com você.


* Par [Do lat. pare.]
1.Igual, semelhante; parceiro

Para Heitor e Nadir

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