21 de abril de 2011

Realidade Vã


Era sexta-feira, dia de tocar com a banda no barzinho da esquina. Alice e mais quatro amigos formavam uma daquelas bandinhas de garagem, que fazem um som só por diversão e nada por dinheiro. E nesse barzinho, tocavam sem cachê. Gostavam de fazer músicas e poder passar para as outras pessoas. O som não era ruim, mas era simples. Alice, a compositora mais frequente dos componentes, tentava levar ao menos duas músicas novas por mês. Ela gostava de cantar imaginando o tal alguém na última cadeirinha do balcão. Gostava de ver os olhos atentos e os sorrisos soltos da plateia.

E a música começou.

Ela nunca gostava de ser a primeira a cantar, então o seu companheiro de vocal cantava três músicas e passava a vez para ela. Era sempre assim.

- E agora, senhoras e senhores, com vocês: Alice! - o amigo e companheiro de vocal de Alice gritou, enquanto todos aplaudiam.

Com aquele sorriso que quase nunca saía do seu rosto, Alice apareceu.

- E essa é mais uma das minhas canções para um tal alguém, que nem sequer sabe que eu o escrevo essas canções. Essa não é a primeira, e também não será a última. E eu faço questão de compartilhar com vocês. Não só a música, mas todo o meu amor. - E se ajeitou no banquinho, enquanto os intrumentos começavam.

E de olhos fechados, cantou.

It was one night in December

You told me there is another girl



E não tinha uma vez sequer que ela cantasse essa canção sem tremer. Sem pensar em todos os planos que ela fez para os dois. Sem ter um sorriso nos lábios, apesar de tudo.


And I dreamed that so much kisses
under the rain with you


Sem lembrar daquele jeito risonho dele, daqueles ombros largos e todas aquelas manias que eram tão desejas por ela. Daquelas calças surradas e sua camisa xadrez.


And if I never told you, then learns
It's September and I never stopped wanting you
And expect you to say ...


Sem passar os olhos pela plateia e observar a cadeirinha do balcão, na esperança de que ele estivesse lá.

E ela não conseguiu terminar. Deixou o palco, e as pessoas sem entenderem coisa nenhuma. Uma lágrima escapava no cantinho do olho esquerdo bem delineado. Ouviu alguém gritar seu nome, mas fingiu não ouvir. Tropeçou em uma cadeira e topou em algumas pessoas que chegavam no barzinho. Girou a maçaneta da porta e saiu, andando ligeiro.
Ouviu seu nome outra vez.

- Alice, espera! - o tal alguém a parou, segurando seu braço.

Eles se observaram.
Os olhos dele tinham um peso de consfusão. E os delas pareciam descontrolados, olhando da boca para os olhos, e dos olhos para a boca dele.
E como Alice aguentaria, se aqueles olhos castanhos estavam em cima dela? Ela sabia do estrago que eles eram capazes.
A luz fraca da lua, quase totalmente coberta pelas nuvens carregadas, mostraram no rosto de Alice um rastro de lágrimas.
Ela abriu a boca, tentando falar qualquer coisa. Mas antes de sair qualquer som, ele a beijou.

Alice sentia o chão se dissolver. Ou eram suas pernas que não estava conseguindo se sustentar? E seria mentir se dissesse que ela não pensou em nada naquele momento. Ela pensou em tudo e em nada ao menos tempo. Mais ou menos assim. Era tudo de uma vez só, se misturando, se confundindo. Frestinhas de um querer infinito que nunca deixasse acabar ali.
Soltou toda essa confusão no chão e pousou suas mãos nos ombros dele. Ela esperara tanto por isso.

- Eu amo você. Sempre amei - ela finalmente conseguiu dizer.
- Eu sempre soube - ele sorriu.

E do barzinho vinha um sonzinho fraco. Uma mistura de sax e violão.

- Isso está parecendo filme - ele falou, limpando o delineador borrado no cantinho do olho dela.

Os dois riram, beijando-se mais.

E o próximo som foi o da chuva, que começou a cair, fraca.
Riram mais.
E ficaram ali. Abraços, beijos. Beijos, beijos, abraços. Até a chuva os encharcar.


Corta!

Alice, que estava na graminha em frente a sua casa, olhando estrelas, achou melhor parar com aqueles sonhos bobos e ir para a cama. Talvez para sonhar mais.

5 comentários:

Versos desafinados disse...

Lindo, lindo, lindo! Quem nunca ficou olhando as estrelas, criando histórias? Lembrei-me daquele filme: "Antes que termine o dia", não sei porque. rs

Nara Sales disse...

Que maldade! Adorei a história. Muito mesmo. É uma pena que, constantemente, os nossos desejos sejam interrompidos.

Anônimo disse...

Oi interessante blogue , apreciei muito, secalhar poderiamos tornar-nos amigos de blog :) lol!
Aparte de piadas chamo-me Luís, e assim como tu publico webpages se bem que o tema principal da minha página é muito distinto de este....
Eu desenvolvo sites de poker que falam de bónus sem depósito sem teres de por o teu cash......
Gostei bastante aquilo li aqui nesta 2a visita
Voltarei!:)
Ps:desculpa o meu portugues

Fábio Mariz disse...

Gostei do blog e já estou seguindo!

visite o nosso e seja uma seguidora, beijos...

(http://www.marizmoda.blogspot.com)
@FabioMarizReal & @MarizModa

Minne disse...

Nossa, que choque de realidade =/
O início do texto me trouxe uma nostalgia imensa, me lembrou "500 dias com ela" e tudo o que houve de mais querido no tempo em que assisti esse filme. A chuva no finalzinho foi um encanto, quem não queria um momento desses ?
Esse choque de realidade me ocorre por várias vezes, infelizmente nem todos os nossos sonhos se tornam realidade, no geral, utopia mas tem uma frase de Eduardo Galeno que admiro bastante, diz assim "A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".

Enfim, é isso, eu amei a história, mesmo.

Ps: Desculpe-me pela palestra aí em cima. []