11 de agosto de 2011

La petite magie de rue Corinne





Passar naquela ruazinha estreita tornou-se regra diária para Corinne. Ver cada coisinha no seu lugar talvez lhe fizesse bem. É, talvez fosse isso. Ela não sabe dizer. A confeitaria. As três casinhas gêmeas de cores alegres. As bicicletas jogadas no meio da rua enquanto os meninos jogavam bolinhas de gude. A doninha em sua cadeira de balanço tricotando na companhia de alguma estação de bossa nova no rádio e do gato que sempre estava na sexta de fios, preguiçoso. A calçada com azulejos preto e branco. A biblioteca. Depois da biblioteca sempre teve um canteiro de flores cuidado por uma senhora da casa de calçada preta e branca, um banquinho rabiscados pelas crianças quando vinham da escola e uma casa velha e abandonada que nunca deixara de ser bonita, mas Corinne nunca percebeu. Deve ter passado os olhos algumas vezes, mas nunca atentou-se para isso. Apressava o passo para chegar o mais depressa em frente à biblioteca e custava a sair de lá. Sempre passava mais de cinco minutos só observando tudo o que dava para ver pela parte de vidro da porta. Sempre retardava o passo ao sair de lá. Sempre andava lento, olhando para trás.
Certa vez alguém a viu enquanto fazia seu ritual diário de observação, feito estátua, a biblioteca e gritou para que ela entrasse lá. Desconsertada, esse foi o único dia que Corinne andou depressa e não olhou para trás. E foi-se o caminho inteiro perguntando porque nunca entrara. Era realmente intrigante.
À noite, decidiu voltar à ruazinha e observar mais a biblioteca. Ela se contentava mesmo com pouco.
Sentou no meio-fio da calçada do outro lado da rua e apreciou. Pode ver algumas pessoas entrando com e sem livros. Desejou tê-los. Ficou tanto tempo ali que não percebeu a hora passar. Desviou o olhar para a rua silenciosa e voltou rápido o olhar para a biblioteca quando a luz lá dentro apagou.
Resolveu aproximar-se mais. Olhou de um lado para o outro e juntou as mãos e pôs o rosto entre elas, encostando no vidro. A biblioteca parecia ainda mais linda vista daquele modo.
Pegou na maçaneta da porta para sentir e sonhar entrando e girou. Os olhos arregalaram-se e a boca fez uma circunferência em uma mesma proporção de tempo quando sentiu a maçaneta deslizar e abrir. Como o dono da biblioteca poderia tê-la esquecida aberta?
Corinne entrou, extasiada e de repente a trilha sonora do seu filme preferido começou a tocar em seu coração. Percorreu os corredores tocando em alguns livros e sentou em um banquinho no final do corredor que servia de escada para alcançar os livros mais altos.
Imaginariamente baixou o volume da música que estava em seus ouvidos e ouviu aquele amontoado de palavras falar. Ouviu, ouviu e ouviu. E que monte elas disseram! E que mágica elas tem!, pensou Corinne, sorrindo boba.
Poderia ter ficado ali para sempre. Mas ouviu passos arrastados e alguém murmurando que esquecera de trancar a porta.
Correu depressa para fora e sentiu os braços de cada palavra segurá-la para que ela não fosse. Nunca fora tão difícil deixar aquele lugar. Mas ela tinha que fazer. Mas prometeu, baixinho:
- Eu vou voltar.
E encostou a porta devagar, sentindo as pernas bambas.


Um comentário:

Ana. disse...

Que texto mais doce. ♥ Corinne me lembrou Florence, de "A Menina Que Não Sabia Ler", toda essa sede por palavras.